Alfama

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Alfama: artistas expõem carne em decomposição

(imagem de José Sena Goulão)

Vida, larvas, moscas e morte. A associação pode parecer bizarra, mas é o tema de uma peça composta por uma perna de carneiro em decomposição, exposta numa nova galeria de arte em Alfama, que surpreende a população do bairro típico lisboeta, noticia a Lusa.
«Isto é uma exposição? Ó meu Deus!», afirma Guilherme, merceeiro do bairro.
«Isto» é um cubo de acrílico que contém uma perna de carneiro a ser decomposta por larvas e varejeiras, com um copo de vidro com água ao lado, uma peça colocada à entrada da galeria e que pretende representar a vida e a morte.
«Life» (vida) é o tema da exposição, mas o visitante é também confrontado com o seu contrário, a morte.
«Flie» - que joga com as mesmas letras de «life» e tem, em inglês, o som da palavra «mosca» («fly») - representa esta antítese, materializada numa outra peça da exposição, um conjunto de quadros em que moscas mortas, coladas à tela, assumem protagonismo.
O jogo de palavras - «Life» e «Flie» - não é inocente.
«Nós, humanos, estamos sempre a matar as moscas. Elas representam a morte», explica um dos dois artistas que criaram a exposição, que pretende levar o observador a pensar na morte e consequentemente na vida.
«A vida só tem sentido se houver morte», salienta.
«Não esquecerão o que viram»
A galeria abriu portas na Rua dos Remédios no início de Setembro, estando prevista a sua abertura oficial em Novembro, altura em que as peças expostas estarão disponíveis para venda.
Até lá, indicou o artista inglês, todos são bem vindos a entrar neste espaço para ter uma ideia daquilo que será a exposição.
A decisão de abrir a galeria em Lisboa é justificada com a maior facilidade de entrar no meio cultural, face a outras capitais europeias.
Moscas, larvas e carne putrefacta podem repugnar quem por ali passa, mas mais importante que tudo é que «não esquecerão o que viram», o que obrigará sempre as pessoas a reflectir sobre a vida e a morte.
As opiniões dividem-se
Entre a população, as opiniões sobre a obra dos dois artistas divergem, mas a curiosidade parece ser generalizada entre os moradores de Alfama.
Rosário, moradora, diz que olha «sempre para lá, a ver se lá está a mesma coisa».
Confessa que se assustou a primeira vez que viu a obra, que lhe «parecia um chispe», mas depois ouviu dizer que «era um osso de presunto cheio de bichos».
Ivo, trabalhador no bairro, viu de passagem a obra, que diz ter achado «arrepiante», apesar de defender «a diferença e a originalidade».
«Aquilo faz-me um bocadinho de confusão. Uma varejeira... cultura», ironiza.
In Portugal Diário 27/09/2007

Debate sobre o Terminal de Cruzeiro








Fui ver à Internet e sobre este debate, que assisti, vi estas noticias:

In Expresso Online / Lusa (28/9/2007)


«O jornalista Miguel Sousa Tavares qualificou quinta-feira a Administração do Porto de Lisboa (APL) de "associação de malfeitores" durante um debate sobre a construção do novo terminal de cruzeiros, obra promovida por aquela entidade. Lisboa, 28 Set (Lusa) - O jornalista Miguel Sousa Tavares qualificou quinta-feira a Administração do Porto de Lisboa (APL) de "associação de malfeitores" durante um debate sobre a construção do novo terminal de cruzeiros, obra promovida por aquela entidade."Ao contrário de pessoas que dizem que a Administração do Porto de Lisboa tem coisas positivas, eu acho que é uma associação de malfeitores", afirmou Miguel Sousa Tavares no debate promovido pelo Fórum Cidadania Lisboa e pela Associação do Património e da População de Alfama.Segundo Sousa Tavares, "não é por acaso" que APL, tutelada pelo Ministério das Obras Públicas não se fez representar no debate sobre o terminal, uma obra que envolve a construção de um hotel e de um muro com seis metros de altura e cerca de 600 metros de comprimento."É um inimigo público da cidade", acusou Sousa Tavares, referindo-se a construções autorizadas por aquela entidade, tutelada pelo Ministério das Obras Públicas, que tem jurisdição sobre a frente ribeirinha da capital.O jornalista desafiou o advogado José Miguel Júdice, que poderá vir a coordenar a reabilitação da frente ribeirinha, e esteve no debate, a modificar as relações da APL com a cidade."Está numa situação invejável porque não tem nada a perder, não quer o lugar e tem uma oportunidade única de fazer obra", afirmou dirigindo-se a Júdice."Exija poder de facto sobre a Administração do Porto de Lisboa, poder de suspensão sobre o que está em causa", incitou. José Miguel Júdice recusou contudo esclarecer que papel poderá desempenhar na reabilitação da frente ribeirinha."Neste momento pouco ou nada posso dizer. Estou numa espécie de limbo", advertiu no início do debate que decorreu no Instituto Superior de Psicologia Aplicada.O ex-presidente e actual vereador independente Carmona Rodrigues afirmou quarta-feira, na reunião do executivo municipal, que no anterior mandato o Governo manteve contactos com a autarquia para a constituição de três sociedades para a reabilitação da frente Tejo e admitiu que nesses encontros foi referido pelo Governo "como nome de um possível coordenador o doutor José Miguel Júdice".Júdice a o vereador dos Espaços Verdes na Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes (BE), manifestaram-se "descansados" durante o debate sobre o terminal de cruzeiros em que a obra não se construa de acordo com o projecto original.A Câmara de Lisboa aprovou quarta-feira, com a abstenção do PSD, uma moção contra a construção do terminal, uma obra que dispensa licenciamento camarário por ser da responsabilidade da APL.O presidente da Câmara, António Costa (PS), considerou na reunião que o terminal constitui "uma má solução".A secretária de Estado das Obras Públicas e Transportes, Ana Paula Vitorino, disse na quinta-feira à Lusa que os edifícios referentes ao terminal vão ser "debatidos" e respeitarão "as regras urbanísticas".Falando na Gare Marítima de Alcântara, no encerramento das cerimónias alusivas ao Dia do Mar, a governante adiantou que "neste momento" apenas está a ser feito o terminal em si, e que apesar de não conhecer o teor da moção, este não está em causa.Ana Paula Vitorino esclareceu que já teve uma reunião com o vereador da autarquia responsável pelo Urbanismo, Manuel Salgado, tendo sido solicitado a duas pessoas da Câmara Municipal para, juntamente com elementos da APL, chegarem a "uma solução compatível e de acordo com as regras urbanísticas" relativamente aos edifícios.Segundo a secretária de Estado, pretende-se que no final haja "uma solução consensual com a Câmara Municipal de Lisboa".ACL/AV.Lusa/Fim»


In Sol Online /Lusa (28/9/2007)


«O vereador lisboeta Sá Fernandes (BE) e o advogado José Miguel Júdice, que poderá vir a coordenar a reabilitação da frente ribeirinha, manifestaram-se hoje «descansados» em que o terminal de cruzeiros não se construa de acordo com o projecto originalO terminal de cruzeiros, em Santa Apolónia, é uma obra da Adminstração do Porto de Lisboa (APL), que envolve a construção de um hotel e de um muro com seis metros de altura e cerca de 600 metros de comprimento, com conclusão prevista para 2010.«Quando fiz o acordo político com o PS houve uma coisa que ficou estabelecida: que isto não se iria fazer. Portanto, estou descansado», disse José Sá Fernandes durante um debate sobre o projecto, promovido pelo Fórum Cidadania Lisboa e pela Associação do Património e da População de Alfama. A APL não se fez representar, apesar de convidada.O vereador, que firmou um acordo pós-eleitoral com o PS na Câmara, garantiu que ainda «não se está a construir nenhum edifício, apenas a estrutura para ancoragem dos barcos».O advogado José Miguel Júdice, que poderá vir a coordenar três sociedades para a reabilitação da frente Tejo, corroborou as afirmações de Sá Fernandes."Podemos estar descansados. Acho que sim, que podemos estar descansados", afirmou o ex-bastonário da Ordem dos Advogados.Júdice escusou-se a revelar os motivos que o levam a estar «descansado», adiantando que «há uma conjuntura propícia» e que «os astros estão favoráveis» a que o projecto não se concretize como previsto, até porque, disse, «não há inércia da Câmara».O advogado recusou igualmente esclarecer que papel desempenhará na reabilitação da frente ribeirinha. «Neste momento pouco ou nada posso dizer. Estou numa espécie de limbo», advertiu no início do debate que decorreu no Instituto Superior de Psicologia Aplicada.O ex-presidente e actual vereador independente, Carmona Rodrigues, afirmou na quarta-feira, na reunião do executivo municipal, que no anterior mandato o Governo manteve contactos com a autarquia para a constituição de três sociedades para a reabilitação da frente Tejo e admitiu que nesses encontros foi referido pelo Governo "como nome de um possível coordenador o doutor José Miguel Júdice".Na reunião do executivo municipal de quarta-feira foi aprovada, com a abstenção do PSD, uma moção contra a construção do terminal de cruzeiros, uma obra que dispensa licenciamento camarário por ser da responsabilidade da APL, entidade tutelada pelo Ministério das Obras Públicas que tem jurisdição sobre a frente ribeirinha da cidade.O presidente da Câmara, António Costa (PS), considerou na reunião que o terminal constitui «uma má solução». Apesar de adiantar poucos pormenores sobre a sua posição acerca do terminal de cruzeiros, José Miguel Júdice afirmou que «é um exemplo de escola, é paradigmático».«Não me peçam para dizer mais», acrescentou. Júdice acabou ainda por afirmar que «um porto pode até ser uma coisa bonita» e que «Lisboa precisa de um porto e também precisa de um terminal de cruzeiros».«Poderá ser útil a todos nós. A questão é onde precisa Lisboa de ter um terminal de cruzeiros», afirmou. Quanto às funções de coordenação da reabilitação da frente ribeirinha, o advogado adiantou que «se isso acontecer» procurará que no final do projecto o cargo não o «envergonhe».Em causa está a constituição de três sociedades para a reabilitação de outras tantas áreas da frente Tejo: uma no âmbito do projecto de recuperação da Baixa Chiado para a recuperação do troço entre o Cais do Sodré e Santa Apolónia, outra para a zona de Belém e outra para a zona de Pedrouços.Segundo o presidente da Câmara, foi neste sentido que encontrou, quanto tomou posse a 1 de Agosto, correspondência entre a autarquia e o Ministério do Ambiente, afirmando discordar nomeadamente do projecto para Pedrouços, em que a Câmara de Oeiras também estará envolvida, devido à densidade da construção envolvida.«Antes de haver quaisquer sociedades, quem vai planear e autorizar planeamento é a Câmara de Lisboa», referiu por seu turno Sá Fernandes durante o debate sobre o terminal de cruzeiros.Presentes no debate, a vereadora do movimento Cidadãos por Lisboa Helena Roseta e o vereador comunista Ruben de Carvalho reiteraram a sua oposição ao projecto.Helena Roseta condenou igualmente que a reabilitação da frente ribeirinha fosse concretizada sem que o Governo colocasse o projecto em «discussão pública».Ruben de Carvalho afirmou não partilhar da "tranquilidade" de José Miguel Júdice e de José Sá Fernandes quanto a não concretização do terminal de cruzeiros, questionado a "firmeza" da maioria PS/BE na autarquia para enfrentar a APL.A secretária de Estado das Obras Públicas e Transportes, Ana Paula Vitorino, disse quinta-feira à Lusa que os edifícios referentes ao terminal vão ser "debatidos" e respeitarão "as regras urbanísticas".Falando na Gare Marítima de Alcântara, no encerramento das cerimónias alusivas ao Dia do Mar, a governante adiantou à que «neste momento» apenas está a ser feito o terminal em si, e que apesar de não conhecer o teor da moção, este não está em causa.Ana Paula Vitorino esclareceu que já teve uma reunião com o vereador da autarquia responsável pelo Urbanismo, Manuel Salgado, tendo sido solicitado a duas pessoas da Câmara Municipal para, juntamente com elementos da APL, chegarem a «uma solução compatível e de acordo com as regras urbanísticas» relativamente aos edifícios.Segundo a secretária de Estado, pretende-se que no final haja «uma solução consensual com a Câmara Municipal de Lisboa».Lusa/SOL»


Lisboa: Júdice e Sá Fernandes confiantes na alteração do projecto para terminal de cruzeiros 28.09.2007 - 11h00 Lusa, PUBLICO.PT

O vereador da câmara de Lisboa José Sá Fernandes (Bloco de Esquerda) e o advogado José Miguel Júdice (que poderá vir a coordenar a reabilitação da frente ribeirinha da cidade) manifestaram-se ontem à noite "descansados" porque acreditam que o terminal de cruzeiros projectado para a zona de Santa Apolónia e Alfama não será construído de acordo com o projecto original.
A obra, da responsabilidade da Adminstração do Porto de Lisboa, envolve a construção de um hotel e de um muro com seis metros de altura e 600 metros de comprimento, com conclusão prevista para 2010."Quando fiz o acordo político com o PS houve uma coisa que ficou estabelecida: que isto não se iria fazer. Portanto, estou descansado", disse José Sá Fernandes durante um debate sobre o projecto, ontem à noite, promovido pelo Fórum Cidadania Lisboa e pela Associação do Património e da População de Alfama. A APL não se fez representar, apesar de ter sido convidada.O vereador — que firmou um acordo pós-eleitoral com o PS na câmara — garantiu que "não se está a construir nenhum edifício, apenas a estrutura para ancoragem dos barcos". O advogado José Miguel Júdice — que poderá vir a coordenar três sociedades para a reabilitação da frente Tejo — corroborou as afirmações de Sá Fernandes. "Podemos estar descansados. Acho que sim, que podemos estar descansados", afirmou o ex-bastonário da Ordem dos Advogados. No entanto, Júdice escusou-se a revelar os motivos que o levam a estar "descansado", adiantando apenas que "há uma conjuntura propícia" e que, em tom irónico, "os astros estão favoráveis" a que o projecto não se concretize como previsto, até porque, disse, "não há inércia da câmara". O advogado recusou-se igualmente a esclarecer que papel desempenhará na reabilitação da frente ribeirinha. "Neste momento pouco ou nada posso dizer. Estou numa espécie de limbo", advertiu no início do debate, que decorreu no Instituto Superior de Psicologia Aplicada.Na quarta-feira, na reunião do executivo municipal, o ex-presidente e actual vereador independente, Carmona Rodrigues, afirmou que no anterior mandato o Governo manteve contactos com a autarquia para a constituição de três sociedades para a reabilitação da frente Tejo e admitiu que nesses encontros foi referido pelo Governo "como nome de um possível coordenador o doutor José Miguel Júdice".Na reunião do executivo municipal de quarta-feira foi aprovada, com a abstenção do PSD, uma moção contra a construção do terminal de cruzeiros — uma obra que dispensa licenciamento camarário por ser da responsabilidade da APL, entidade tutelada pelo Ministério das Obras Públicas, que tem jurisdição sobre a frente ribeirinha da cidade. O presidente da câmara, António Costa (PS), considerou na reunião que o terminal constitui "uma má solução".Apesar de adiantar poucos pormenores sobre a sua posição acerca do terminal de cruzeiros, José Miguel Júdice afirmou que "é um exemplo de escola, é paradigmático". "Não me peçam para dizer mais", acrescentou.Júdice: Lisboa precisa de um porto e de um terminal de cruzeirosJúdice acabou ainda por afirmar que "um porto pode até ser uma coisa bonita" e que "Lisboa precisa de um porto e também precisa de um terminal de cruzeiros". "Poderá ser útil a todos nós", afirmou. "A questão é onde precisa Lisboa de ter um terminal de cruzeiros", salientou.Quanto às funções de coordenação da reabilitação da frente ribeirinha, o advogado adiantou que "se isso acontecer" procurará que no final do projecto o cargo não o "envergonhe".Sociedades para planear reabilitaçãoEntretanto está na calha a constituição de três sociedades para a reabilitação de outras tantas áreas da frente Tejo: uma no âmbito do projecto de recuperação da Baixa Chiado para a recuperação do troço entre o Cais do Sodré e Santa Apolónia; outra para a zona de Belém; e outra para a zona de Pedrouços. Segundo o presidente da câmara, foi neste sentido que encontrou, quando tomou posse, a 1 de Agosto, correspondência entre a autarquia e o Ministério do Ambiente, afirmando discordar nomeadamente do projecto para Pedrouços — em que a câmara de Oeiras também estará envolvida — devido à densidade da construção envolvida."Antes de haver quaisquer sociedades, quem vai planear e autorizar planeamento é a Câmara de Lisboa", referiu por seu turno Sá Fernandes durante o debate de ontem.Também presentes na discussão, a vereadora do movimento Cidadãos por Lisboa, Helena Roseta, e o vereador comunista Ruben de Carvalho reiteraram a sua oposição ao projecto. Helena Roseta condenou igualmente que a reabilitação da frente ribeirinha fosse concretizada sem que o Governo colocasse o projecto em discussão pública.Ruben de Carvalho afirmou não partilhar da "tranquilidade" de José Miguel Júdice e de José Sá Fernandes quanto à não concretização do terminal de cruzeiros, questionado "a firmeza" da "maioria PS/BE" na autarquia para enfrentar a APL.Secretária de Estado prometeu respeitar regras urbanísticasOntem, a secretária de Estado das Obras Públicas e Transportes, Ana Paula Vitorino, disse à Lusa que os edifícios referentes ao terminal vão ser "debatidos" e respeitarão "as regras urbanísticas". Falando na Gare Marítima de Alcântara, no encerramento das cerimónias alusivas ao Dia do Mar, a governante adiantou que "neste momento" apenas está a ser feito o terminal em si e que, apesar de não conhecer o teor da moção, este não está em causa.Ana Paula Vitorino esclareceu que já teve uma reunião com o vereador da autarquia responsável pelo Urbanismo, Manuel Salgado, tendo sido solicitado a duas pessoas da câmara municipal para, juntamente com elementos da APL, chegarem "a uma solução compatível e de acordo com as regras urbanísticas" relativamente aos edifícios.Segundo a secretária de Estado, pretende-se que no final haja "uma solução consensual com a Câmara Municipal de Lisboa".

Câmara de Lisboa contesta terminal de cruzeiros e exige ser ouvida pela APL
27.09.2007, Inês Boaventura - Público


Três é o número de sociedades propostas pelo Governo para intervir nas áreas da baixa, Belém e Pedrouços a A Câmara Municipal de Lisboa aprovou ontem, por maioria, uma moção contra a construção do terminal de cruzeiros de Santa Apolónia e o facto de esta obra, da responsabilidade da Administração do Porto de Lisboa (APL), estar a ser desenvolvida sem que o município tenha sido ouvido sobre o assunto. A moção, que foi aprovada com a abstenção dos vereadores do PSD, resultou da fusão de uma proposta do vereador José Sá Fernandes, do Bloco de Esquerda, com uma proposta dos vereadores da lista Lisboa com Carmona. Na moção defende-se que o terminal de cruzeiros interfere no "acesso e fruição da frente ribeirinha" e atenta contra "o sistema de vistas de e para o Tejo". A Câmara de Lisboa decidiu contestar a construção do terminal de cruzeiros junto da APL e do Governo e exigir a este último que o município passe a ser "parte na discussão e aprovação de qualquer projecto para a zona em causa". A moção aprovada manifesta ainda "o profundo desagrado e indignação pelo facto de estar a ser feito um projecto desta envergadura e impacto sem que o município tenha sido ouvido", descontentamento que se estende à "forma de diálogo que a APL tem estabelecido" com a autarquia. O presidente da Câmara de Lisboa considerou que o projecto que está a ser desenvolvido pela APL "é uma má solução", sublinhando que aquela entidade "não está dispensada de dar informação ao município". António Costa revelou ainda que em Abril de 2007 o ministro do Ambiente propôs à autarquia a constituição de três sociedades para intervir nas áreas da Baixa-Chiado, de Belém e de Pedrouços, proposta que acrescentou não merecer a sua concordância e estar a ser negociada com o Governo. As mais duras críticas à APL vieram do ex-presidente Carmona Rodrigues, que a acusou de "falta de respeito institucional, transparência e rigor na utilização do erário público", e do vereador Pedro Feist, que afirmou que aquela entidade "persiste em fazer o que não lhe compete", vivendo "de costas viradas" para a CML. A pedido da vereadora Helena Roseta, António Costa vai agendar uma reunião extraordinária destinada a debater a frente ribeirinha e a relação entra a autarquia e a APL."


Como resumo do debate aceito que os jornalistas tenham mais capacidade do que eu para o fazer, mas houve duas coisas que não podem ser deitadas fora e que devem ser ditas:

A primeira é o espírito paternalista que eu ouvi do vereador José Sá Fernandes quando disse “Eu não estou preocupado” – como que se estivesse tudo resolvido e que o muro de 600 metros não vai ser feito. Porque, segundo ele, só aceitou ser vereador com pasta e fazer um acordo com a Câmara Municipal porque uma das cláusulas era de que o terminal não vai ser construído. Tal leva-me a pensar em várias coisas:
1 - A C.M. Lisboa não é a entidade competente sobre o Porto de Lisboa, pois as obras de alargamento já começaram e nada foi informado à C.M. Lisboa. Aceesce que, segundo a lei, a APL não necessita de autorização da C.M. Lisboa se a obra for para actividades portuárias. Assim, a APL faz um terminal euq, por acaso, tem um centro comercial e é um atentado à cidde.
2 - Um acordo politico não é um acto com força jurídica, sendo possível aceitar uma coisa e fazer outra. O que poderá acontecer é que o vereador Sá Fernandes se se sentir enganado demite-se (e deixa de receber o ordenado de vereador com pasta). Mas o terminal fica construído. E a cidade mais pobre.
3 - Parece que o acordo é só para impedir de construir coisas e não para dar uma melhor solução a espaços urbanos vazios e sem utilidade. Porque se posso não concordar com o terminal como foi apresentado, não concordo igualmente em deixá-lo abandonado. Algo deve ser feito par Alfama e para a cidade.
4 - Por ultimo, se fez um acordo entre o executivo e o vereador Sá Fernandes, devem os cidadãos de Lisboa saber quais as cláusulas que estão estabelecidas, para ver se são para defesa de Lisboa.

A segunda coisa que me impressionou, foi o facto de que a população de Alfama nada ligou ao debate, mesmo os comerciantes. Como que não pudéssemos fazer nada. Este é o problema dos cidadãos de Portugal. Não são reivindicativos, Não exigem o que têm direito, não lutam pelos seus direitos e pelos seus negócios. Pergunto-me o que seria dos comerciantes se fosse construído o centro comercial. Se já têm poucos clientes iriam ficar com menos. Por isso devem lutar e reivindicar uma vida melhor. Bem tinha razão, no tempo da outra senhora, quando diziam que “o povo é sereno”. E o nosso parece que está adormecido.


Traficante caçado em Transacção em Alfama

Noticia do Correio da Manhã de dia 19 de Setembro:
"A PSP de Lisboa deteve um homem de 44 anos por tráfico de estupefacientes após tentar vender droga a outro indivíduo na zona de Alfama.
Pelas 17h30 de domingo um elemento da PSP surpreendeu os dois homens durante a transacção, mas estes colocaram-se em fuga pelas ruas estreitas do bairro de Alfama.O polícia perseguiu o traficante, conseguindo interceptá-lo pouco depois. Antes de ser detido, o homem ainda tentou desembaraçar-se da droga e de alguns objectos, mas foi impedido pelo elemento da polícia que estava no seu encalço.Ao traficante foram apreendidos vários tipos de droga, nomeadamente 4,34 gramas de heroína, duas gramas de haxixe, quarenta e quatro comprimidos para misturar com estupefacientes, uma navalha tipo borboleta e 423 euros, que se supõe serem produto do tráfico de droga.Presente ao Tribunal de Instrução Criminal, o indivíduo ficou obrigado a apresentações periódica numa esquadra."
Isto popde ser uma boa noticia, ou seja, a policia está a conseguir combater o trafico de droga que ainda existe em Alfama; ou pode ser uma má noticia, que o trafico está a aumentar. Esperemos que seja a primeira.

Imóveis e valor de metro quadradro

Se tiverem algum tempo, basta fazerem uma pequena pesquisa na net sobre imóveis e existe algo que nos surpreende a todos, menos para quem já comprou ou procura casa para comprar.
Em primerio lugar, o valor por metro quadrado de uma casa aumenta só e unicamente pelo simples facto de a mesma se situar no concelho de Lisboa. A razão é unica e exclusivamente o facto de assim não existe o problema do transito.
Só quem não cicula m Lisboa é que acha que o transito só há entrada da cidade e não dentro desta. Todos os que por alguma razão têm de andar de viatura automóvel sabem os problemas da Av. da Républica, e avenidas novas, túnel da João XXI, Avenida da Liberdade, entre muitos outros. Para além do facto de que é cada vez mais dificil estacionar o carro na cidade sem ser nos famosos parques da EMEL. Assim, não precebo qual a razão de as casas serem com valores muito mais elevados (por metro quadrado).
Por outro lado, as razões do valor acrescentdo das habitações em Lisboa, não se aplicam a um bairro que aqui falamos - Alfama.
É muito dificil para não dizer quase impossivel estacionar a viatura á porta de casa e nos locais que a EMEL têm estão quase sempre cheios. Existindo a necessidade de pagar o estacionamento no Jardim do tabaco, que se for com a autorização da junta onde está a nossa morada, fica pelo valor de Eur. 25,41€.
Acresce que a viatura fica em muitos casoa a cerca de 400 metros de casa. Sendo sse percurso que temos de fazer diariamente, msmo com as compras do mês.
Por outra lado, as casas têm cerca de 200 a 300 anos. Podemos dizer que são casas históricas, mas sem elevador, se vidros duplos, sem caixas de ar, sem porta blindada, sem tudo aquilo que as pessoas procuram quando compram uma casa e que a evolução dos ultimos 100 ou 200 anos nos deu. Pelo menos pelos valores que estão à venda em Alfama consigo comprar uma casa nova ou recent no concelho da Amadora ou Loures..
Existe a freguesia de São Miguel, uma casa, T0, pelo valor de 85.000€, mas a precisar de remodelação, 4º andar sem elevador, mas indicando que é uma casa do sec. XVIII, histórica, pelo menos história tem.
Encontrei outra casa, para obras totais, um T3, com área util de de 70,83 metros quadrados pelo preço de 241.500€. Fazendo o preço por metro quadrado chegamos ao valor de 2.540€. Lembrem-se que dizem para obras totais. Sei que todos os vendedores de casas acham, que uma casa nova com valores por metro quadrado acima de 2.250€, um preço muito elevado. E esta é para obras totais.
Consigo encontrar facilmente casas com 4 anos nos olivais com áreas maiores onde o preço por metro quadrado é de 1.771€. E este bairro é doa anos sessenta e talvez o unico feito com algum planeamento.
Dai ver-mos cada vez mais placares de vende em Alfama e poucos são tirados. Alguém devia dizer ao proprietário que uma casa em Alfma não é nenhuma mina de ouro.

Proposta dos vereadores da Lista "Cidadãos por Lisboa" para reconciliar a cidade com o rio


Os vereadores Helena Roseta e Manuel João Ramos elaboraram esta proposta de reconciliação da cidade com o Rio para ser discutida em reunião de Câmara:


"Proposta /2007

Reconciliação da cidade com o rio

Considerandos:


O modelo urbano subjacente ao Plano Estratégico de Lisboa ( PE ), aprovado em 1992, e ao Plano Director Municipal ( PDM ), aprovado em 1994, delimitava uma zona intitulada “arco ribeirinho”, constituída “por uma estreita faixa, de Belém a Beirolas, na qual se decidem as relações entre a cidade e o rio” e que “permite a ligação ribeirinha entre os sectores poente, a Baixa e a zona oriental da cidade ( mapa 1 )


O mesmo Plano Estratégico de Lisboa consagrou de forma inovadora a Estrutura Verde da cidade, como um sistema ecológico formado por uma estrutura verde principal e uma estrutura secundária. Os espaços livres da margem ribeirinha do Tejo deveriam, segundo o PE, ser incluídos na estrutura verde principal.


A estrutura verde da cidade acabou por ser consagrada no PDM através das componentes ambientais urbanas. A planta mostra que o arco ribeirinho, para além de dever estar integrado na estrutura verde principal, é simultaneamente zona de elevado risco sísmico, o que contribui para agravar a fragilidade e necessidade de protecção de toda a zona ribeirinha ( mapa 2 ). Recorde-se que as condicionantes urbanísticas decorrentes das componentes ambientais urbanas do PDM prevalecem sobre as regras de edificabilidade.

A frente ribeirinha é também historicamente uma zona portuária, com papel essencial na identidade e na vida da própria cidade. A essa carga histórica há que juntar o papel simbólico do rio e do porto de Lisboa na percepção da cidade ao longo dos tempos e nas múltiplas formas de expressão artística, literária e poética associadas a Lisboa.


A evolução da actividade do porto de Lisboa tem vindo a sofrer impactos significativos com a emergência de novas condições concorrenciais, devidas à evolução tecnológica e à própria globalização, estando Lisboa actualmente em perda progressiva comparativamente a outros portos europeus e até ibéricos.


É determinante para Lisboa promover uma nova visão da zona ribeirinha que permita a reconciliação da cidade com o seu rio, sem perder a função portuária. Esta reconciliação é tanto mais difícil quanto maiores forem as barreiras físicas ao contacto visual e directo com o rio e quanto mais pesadas forem as infra-estruturas portuárias, ferroviárias e rodoviárias sucessivamente instaladas sobre zonas de aterro, paralelamente à linha de costa.


A reconciliação das cidades portuárias com as frentes de água é hoje uma das linhas estratégicas que está a pressionar formas inovadoras de compatibilizar actividades nessas zonas em muitas cidades portuárias do mundo, nomeadamente através da devolução ou criação de novos espaços públicos e da resolução de conflitos entre a fruição das frentes de água e as actividades que nela podem ser exercidas, procurando privilegiar funções de lazer e recreio.

O actual modelo de gestão territorial da zona ribeirinha de Lisboa, sob a jurisdição total da Administração do Porto de Lisboa ( APL ), é um anacronismo que foi amplamente criticado por sucessivas vereações municipais e unanimemente contestado por todas as forças concorrentes às eleições intercalares de Lisboa de 2007.


O Plano Estratégico da APL, ao abrigo do qual têm vindo a ser comprometidas sucessivas áreas da frente ribeirinha para edificações de diversa natureza, não foi debatido publicamente e a CML teve apenas a possibilidade de sobre ele se pronunciar sem carácter vinculativo. No entanto, as disposições do PDM, nomeadamente as condicionantes urbanísticas da Componentes ambientais urbanas, são vinculativas para toda a Administração pública.


Há notícias de intervenções previstas para a zona ribeirinha que podem pôr em causa os objectivos essenciais das componente ambientais urbanas do PDM. Mas além disso não estão a ser salvaguardados o direito à informação e à participação previstos no Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão territorial ( decreto lei nº 390/99 de 22 de Setembro ), respectivamente nos seus artigos 5º e 6º.


No acordo político entre o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda para a actual gestão autárquica afirma-se que a Câmara deverá exigir do Governo a retirada à APL da tutela sobre as áreas não ocupadas por actividades especificamente portuárias.


Notícias recentes dão conhecimento da intenção governamental de criar para a zona ribeirinha de Lisboa um modelo de gestão territorial que passará eventualmente pela criação de uma terceira entidade, em moldes que não foram apresentados e que não são do conhecimento de toda a vereação.


Os objectivos do rigor e da transparência não devem ser defraudados por processos de decisão que não envolvam, não apenas toda a vereação de Lisboa, mas também os restantes órgãos municipais e os munícipes.


Há hoje em dia experiência acumulada por outras cidades portuárias na prossecução de estratégias de reconciliação entre os seus portos e as respectivas populações que devem ser inspiradoras, nesta fase de mudança, para a cidade de Lisboa.


Assim, proponho:


1. Que a Câmara determine com prioridade a cartografia exacta das “áreas não ocupadas por actividades especificamente portuárias” na zona ribeirinha afecta à APL.


2. Que os serviços da Câmara preparem, sob a orientação do senhor vereador Manuel Salgado, um concurso de ideias sob o tema “Reconciliação da cidade com o rio”, a lançar antes da decisão sobre o modelo de gestão territorial a aplicar na zona ribeirinha.

3. Que o futuro modelo de gestão a aplicar na zona ribeirinha seja objecto de debate público antes da deliberação por parte da Câmara Municipal de Lisboa.


Lisboa, 13 de Setembro de 2007


Pelos vereadores “Cidadãos por Lisboa”
A Vereadora


Helena Roseta "


Quanto à proposta não tenho nada contra excepto que parece uma proposta um pouco geral e abstracta e sem nada de conteúdo concreto em relação às zonas onde a cidade se encontra com o rio. E que não são poucas.
Quanto ao nº 1 da proposta dos vereadores é uma proposta de "uma faca de dois gumes". Se olharmos para aquilo que o APL pretende fazer no Cais do Jardim do Tabaco, podem eles dizer que é uma área ocupadas por actividades especificamente portuárias, desembarque de passageiros. Não podendo, segundo eles ser feito noutro local. No entanto, pelo que se sabe do projecto, que é quase nada, é também um centro comercial, um hotel e uma barreira da população para chegar ao rio.
Sendo assim, o APL pode continuar a fazer o que quer.
Em segundo lugar pretendo ajudar quem ler esta proposta o Regime Jurídico dos instrumentos de Gestão Territorial que ao contrario da proposta dos vereadores não é o Decreto-Lei 390/99 mas o Decreto-Lei 380/99 de 22 de Setembro, que poderão ler neste link. Acresce que o mesmo diploma, o Decreto-Lei 380/99 de 22 de Setembro, já foi alterado pelo Decreto-Lei 310/2003 de 10 de Dezembro. Algo que escapou aos assessores dos vereadores, fazendo referencia a um diploma alterado por outro posterior. Podendo estar a falar de normas alteradas. Devem, de futuro ter mais cuidado com as propostas. Devem ter assessores para isso. pelo menos é a função deles, apesar de na prática ser um lugar para amigos e não para que tem capacidade.
Em terceiro lugar, o mapa que apresentam é só da zona de Belém a Beirolas, existe uma área muito maior de contacto da cidade com o rio que não é apresentada nem dado qualquer ideia para o que se poderá fazer. falta igualmente referir a desproporcionada construção e o problemas futuros de transito que se vai criar na zona do Cais do Sodré com os edifícios que estão a ser criados.

ISPA - Instituto Superior de Psicologia Aplicada


O ISPA (Instituto Superior de Psicologia Aplicada) é a instituição de ensino superior existente em Alfama que se insere no bairro desde 1962, como Instituto de Ciências Pedagógicas, tendo a actual designação desde 1964.

O ISPA está completamente inserido no bairro, quer a nível pedagógico, quer a nível cultural, quer a nível de relações inter-institucional.

O ISPA é uma instituição, para além do ensino, com actividades editoriais, culturais e com uma livraria, aberta a todos, com livros de psicologia, entre outros.

O ISPA é um exemplo de uma instituição aberta para o bairro onde se insere e que pretende fazer parte da população do bairro. São este exemplos que devem ser transmitidos ao bairro e à cidade. Acresce que o facto de estar inserido no bairro, provoca que muitos alunos queiram ficar perto da escola, procurem casa, se estabeleçam e possam conduzir para uma renovação do mesmo e, ao mesmo tempo a um acréscimo de escolaridade da população. Esta ultima situação era mais notada no passado, mas que ainda continua a ter as suas marcas e coloca uma etiqueta em Alfama. O ISPA é, e pode continuar a ser, uma bandeira para o bairro, o demonstrar que o bairro se está a modernizar, que é procurado por pessoas mais jovens e de maior nível de instrução.

É no rejuvenescer da população que o bairro tem o seu futuro. É no local de primeira habitação de jovens, a preços controlados, que o bairro pode ter o seu papel. É na relação com instituições existentes como o ISPA e a a Fundação Espírito Santo (esta mais virada para dentro e não tanto inserida no bairro), que o bairro pode crescer a nível cultural, nunca desprezando, mas protegendo, a cultura ancestral do bairro.

José Claudino Rodrigues Miguéis

José Claudino Rodrigues Miguéis nasceu em Alfama no dia 9 de Dezembro de 1901, na famosa Rua da Saudade. Rua já famosa por ter sido a ultima morada de outro grande poeta (José Carlos Ary dos Santos). Durante a sua vida auto-exilou-se nos Estados Unidos. A saudade que o fez voltar a Portugal durante toda a vida procurando ficar, mas acabando sempre por regressar aos Estados Unidos da América, a sua segunda pátria. A saudade por Lisboa e especialmente por Alfama é reparada nos seus escritos, como em “A Escola do Paraíso”, publicado em 1960: “Os paquetes atracam logo em baixo, ao cais, e a rua deve talvez o nome à saudade que para sempre ficou flutuando no sítio: a saudade dos que ficam, e a dos que partem e querem prender-se à terra, de braços, olhos e almas alongadas.”
Filho de pai galego e de mãe Beirã frequentou o Colégio Francês e o Liceu Camões.
Esteve inscrito, frequentou e concluiu o curso de direito na Universidade de Lisboa, fez colaboração com várias publicações, como “Seara Nova”, que se apresentava como meio doutrinário e crítico, com fins pedagógicos e políticos. Integrou ainda a redacção de jornais como a “República”, “O Sol”, “O Diabo”, e a revista “Alma Nova”. É nesta época que faz amizades marcantes, nomeadamente com Raul Brandão e Bento de Jesus Caraça. É com este matemático que irá fundar, em 1932, o semanário “O Globo”, suspenso no mesmo ano pela censura.
Começa, entretanto, a sua vida profissional como advogado, após a conclusão da licenciatura, em 1924. No ano seguinte, é nomeado procurador da República delegado em Setúbal. Regressa a Lisboa em 1926, tornando-se professor no Liceu Gil Vicente, o liceu da zona da sua antiga residência.
Desgostoso pela falta de liberdade de expressão, a par de um longo rol de restrições provocadas pela instituição da ditadura em 1926 -, leva a que José Rodrigues Miguéis aceite uma bolsa de estudo da Junta de Educação Nacional e parta para Bruxelas, na Bélgica, em 1929, para aprofundar os estudos na área das ciências pedagógicas. Se o objectivo era afastar as suas ideias “subversivas” do País, foi bem conseguido. É no estrangeiro que termina a primeira obra publicada, “Páscoa Feliz” (1932). Recebe, por ela, o Prémio Literário da Casa da Imprensa. Neste mesmo ano casa com a professora russa Pecia Cogan Portnoi.
Regressa a Lisboa em 1933, mas não consegue viver na capital, a falta de liberdade e a censura tolhe os movimentos deste defensor da liberdade. Parte, então, para Nova Iorque. Da viagem que faz aos Estados Unidos guarda imagens valiosas, que irá partilhar com o público na crónica “Gente da Terceira Classe”, editada em 1962.
No ano de 1940, casa em segundas núpcias com a luso-americana Camila Pitta Campanella. No mesmo ano publica um dos seus contos mais conhecidos: “Léah”. Mais tarde, integra-o num conjunto de textos aos quais dá o nome de “Léah e Outras Histórias”, pelo qual receberá em 1959 o Prémio Camilo Castelo Branco, da Sociedade Portuguesa de Escritores. Estabelece fortes laços com as comunidades portuguesa e hispânica nos EUA e em 1960 é eleito académico correspondente da Hispanic Society of America. Visita Portugal por diversas vezes, chegando a permanecer durante dois anos, entre 1957 e 1959.
Continua a publicar até ao fim da vida. “Nikalai! Nikalai!” (1971), “O Espelho Poliédrico” (1973), “Comércio com o Inimigo” (1973) e “O Milagre Segundo Salomé” (1975), recentemente adaptado ao cinema pelo realizador português Mário Barroso, são disso exemplo. Em 1976 é escolhido para membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e em 1979 recebe um dos graus da Ordem Militar de Santiago de Espada. É um dos escritores mais significativos do século XX. Sem se inserir no movimento neo-realista, revelou dar particular atenção às questões sociais, explorando os temas da emigração e do exílio, descritos com grande realismo. Quando morre, em Outubro de 1980, deixa uma vasta obra e uma influência marcante na literatura portuguesa.

Fado


Apesar de me considerar um pessoa jovem, não posso deixar de dizer que, apesar de ao longo dos meus anos ter dito que não gostava de fado, ele hoje faz parte da minha vida e sempre que o oiço lembra-me a minha alfama.

O fado é uma canção que nos traz saudade, lembranças do passado e que, na sua maioria nos traz sentimentos como a nostalgia, um pouco de tristeza. É uma musica que deve ser ouvida com o coração e é este órgão (a parte sentimental do cérebro e não o coração strito senso) que compreende o fado.

O fado é uma musica do povo pois não só em cada pessoa à um pouco de fadistas como pode e deve ser acompanhada por uma simples guitarra clássica e uma portuguesa.

É uma musica que nos fala de traições, saudades, da vivência do quotidianos das pessoas e essencialmente das partes negras das nossas vidas. É uma musica que ao falar dos fantasmas da vida, os expele, como que fazendo uma lavagem destes passados depressivos de uma pessoa.

O fado é uma musica totamente portuguesa que deve ser preservada e ouvida por todos de modo a percebermos quem somos e a limpar a nossa alma.

Transito em Alfama

No dia 15 de Maio de 2007 o Sr. Paulo Amaral, residente no Bairro de Alfama, em representação de um grupo de moradores, fez uma internenção na Assembleia Municipal de Lisboa que passo a transcrever:

"EXMA. MESA DA ASSEMBLEIA
EXMAS. SENHORAS E EXMOS. SENHORES PRESIDENTES DE JUNTA
E DEMAIS ELEITOS
Somos moradores do bairro de Alfama, mais concretamente da Freguesia de Santo Estêvão, e vimos colocar a V. Ex.ªs alguns considerandos do que tem sido estes quase quatro anos de trânsito e estacionamento condicionado, imposto pelo Regulamento Específico da Zona de Estacionamento de Duração Limitada de Alfama.
Há cerca de 4 anos que o trânsito no Bairro de Alfama está sujeito a regras. Desde aí foi implementado um regulamento para condicionar o trânsito e o estacionamento nas ruas do Bairro.
Esse regulamento considera, entre outras coisas, trazer inegáveis benefícios para todos os moradores, nomeadamente:

  • a segurança dos moradores, que veriam melhorada a circulação de viaturas de emergência;
  • a circulação dentro do bairro, reduzindo bastante os bloqueios causados por carros mal estacionados;
  • a facilidade para o estacionamento dos moradores, ao afastar do interior do bairro muitas viaturas de visitantes e outros, apesar de os lugares existentes não serem suficientes para os automóveis dos moradores, e por isso existirem sempre dificuldades;
  • a melhoria do ambiente e da qualidade de vida de todos os moradores.

No entanto o que se verifica é que:

  • a segurança dos moradores passou para segundo plano, pois continua a verificar-se dificuldade na circulação das viaturas de emergência e da própria PSP;
  • continua a ser caótica a circulação nas ruas do bairro, pois ruas há em que existindo dois sentidos só consegue circular uma viatura de cada vez;
  • a dificuldade dos moradores em estacionar continua a verificar-se, pois grande parte das viaturas estacionadas não têm dístico de autorização para o fazerem;
  • o ignorar de todos os pedidos de reuniões e esclarecimentos, feitos pelos moradores e pela Junta de Freguesia de Santo Estêvão, por parte da administração da EMEL;
  • Depois de todos estes contratempos, a qualidade de vida de quem mora no bairro não melhorou, pois continuamos a ter que dar voltas e voltas ao bairro para conseguir estacionar.

Assim, consideramos fundamental para o bem-estar da população do bairro de Alfama o que a seguir enunciamos:

  • A execução plena do Regulamento aprovado em sessão de Câmara;
  • A fiscalização, por parte dos funcionários da EMEL ou da Polícia Municipal, das viaturas mal estacionadas, estacionadas há vários meses ou sem dístico de autorização para entrarem dentro dos limites do bairro, à semelhança do que é feito em outras zonas da cidade;
  • Fazer com que o Regulamento não seja aplicado de forma arbitrária consoante o funcionário de serviço, para que as regras sejam uniformes, ou seja, não haver dois pesos e duas medidas para permitir ou proibir as entradas no bairro;
  • Sinalizar nos acessos ao bairro a localização dos parques de estacionamento alternativos.

    Para terminar:

    Passados quase quatro anos da entrada em vigor da Zona de Estacionamento e Trânsito Condicionado no bairro de Alfama, os moradores sentem-se completamente – e sublinho completamente – abandonados pela Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa."

    Lisboa, 15 de Maio de 2007

Comunicação Oral


Grande parte da comunicação em Alfama faz-se de modo oral. Tudo se sabe e é divulgado de modo oral. Muitas vezes parece que não existe, neste bairro, novas tecnologias.

Tudo o que se passa, no bairro, não é segredo e podem os mais defensores da privacidade desistir pois nada no bairro se consegue esconder. Exemplo disso foi algo que se passou na ultima semana.

Eu tive uma doença, que já está a ser curada - A Zona - que me obrigou a ficar de cama uns dias. Ao visitar os meus pais, estacionei o carro na rua da alfandega e tive de andar cerca de 80 metros até chegar ao pé deles. Nesses pequenos metros fui confrontado com quatro pessoas que já sabiam da minha doença e que tinham a forma ideal para a sua cura. Parecia que tinham informado no telejornal, e logo na noticia de abertura, que eu tinha esta doença.

Claro que também recebi, por quatro vezes, a noticia que a D. Júlia tinha falecido.

Existe como que um jornal oral que vai divulgando as noticias do bairro.E a velocidade de distribuição da noticia varia em função da gravidade, novidade e espectacularidade da mesma.

Para pessoas que, nos dias de hoje, não conhecem os restantes condóminos dos prédio onde moram à vários anos é algo impensável. A nossa sociedade veio criar um novo ser das cidades, egocêntrico, egoísta e muito defensor da sua vida pessoal, como que um forte onde só entra quem ele quer.

Esse ser ainda não nasceu em Alfama e os que entram ou mudam ou desistem e saem deste bairro.

No sentido positivo, tal situação vem demonstrar que, como numa família, todos sabem a história e as estórias de todos, mas estão sempre lá para ajudar.

Santa Apolónia recebe hotel de charme

"Quebra no tráfego de comboios obriga Refer a mudanças na estação. Novo projecto ficará paredes-meias com o terminal de cruzeiros de Lisboa.
Um dos desafios da administração da Refer, liderada por Luís Filipe Pardal. O objectivo é conferir dinamismo e prestígio a um espaço nobre, localizado numa zona história da cidade, que ficará subaproveitado com a transferência de toda a área administrativa da Refer instalada em Santa Apolónia para a estação de Alcântara-Terra. É neste último local que a Refer quer instalar a sua nova sede até ao final da corrente década. O projecto já ganhou os primeiros esboços pela mão do arquitecto Frederico Valsassina.A ideia de conferir um novo rosto a Santa Apolónia há muito que está em maturação, mas a sua concretização tem sido condicionada por vários factores. A necessidade de racionalizar custos e potenciar sinergias fez relançar o debate em torno do projecto. Desde a entrada em funcionamento da estação do Oriente, na zona da Parque Expo, que Santa Apolónia se confronta com uma crescente diminuição do tráfego ferroviário. Menos de um quarto do que se registava em 1998. E a tendência é para piorar. Com a conclusão do prolongamento da linha vermelha do Metropolitano de Lisboa, que ligará a estação do Oriente a S. Sebastião e, futuramente, a Campolide, fica definitivamente comprometido o futuro de Santa Apolónia enquanto principal fluxo de escoamento de passageiros, tanto para o resto do País, como para o estrangeiro. As projecções apontam para um crescente número de pessoas que passará a preferir a estação do Oriente.A administração da Refer não pretende, no entanto, desfazer-se da componente ferroviária de Santa Apolónia. Um dos cenários aponta para o possível recuo das duas linhas que hoje entram no interior da estação, a qual tem a configuração de uma ferradura. A cobertura da nave interna permitiria a criação de uma área comercial. À requalificação deste espaço não são alheias as ambições do Governo e da Administração do Porto de Lisboa (ver caixa) para esta zona da cidade, anexa a Alfama, um dos bairros mais carismáticos da cidade. Em Santa Apolónia ficará o novo terminal de cruzeiros de Lisboa, cuja entrada em operação também está prevista para 2010.A Parque Expo já elaborou os planos de intervenção da frente ribeirinha de Santa Apolónia que será alvo de gestão de uma ‘holding’ a criar pelo Executivo de José Sócrates, com maioria de capitais públicos. Uma solução que tem como referência as sociedades Polis que foram lançadas com objectivos semelhantes.Apesar de contactada pelo Diário Económico, não foi possível obter uma reacção da gestão da Refer até ao fecho da edição. Onda de remodelação varre zona portuáriaA área portuária de Santa Apolónia vai igualmente ser alvo de intervenção. O objectivo é concentrar os cruzeiros numa das zonas históricas da cidade e tornar o porto de Lisboa uma referência nas rotas turísticas internacionais. Actualmente, esta actividade está dispersa por Santa Apolónia, Alcântara e a Rocha de Conde d’Óbidos. O porto de Lisboa, que deverá este ano receber mais de 300 mil passageiros de navios de cruzeiros, é o sexto em toda a Península Ibérica que atrai mais visitantes, captando 14% do volume de passageiros dos dois países. A reconversão da Doca do Jardim do Tabaco permitirá receber simultaneamente cinco navios de cruzeiro. O projecto deverá estar concluído no Verão de 2010 e vai integrar, além da gare marítima, um hotel com dois pisos, uma área de escritórios, zonas comerciais e de estacionamento para 1.065 veículos. Ao todo serão gastos 45 milhões de euros, dos quais 40% têm origem em fundos comunitários. Além do terminal de cruzeiros, a estrutura de Santa Apolónia contempla a requalificação do espaço urbano, um ponto considerado crucial para atrair mais turistas. O projecto envolve o Governo e a Parque Expo."
Ana Maria Gonçalves
Diário Económico

Telenovelas em Alfama

Vão para o ar nas tardes e noites da TVI duas telenovelas - "OK KO!" e "Deixa-me Amar" onde parte da personagens vivem em Alfama.
Tal noticia em si, não é má. É mais uma forma de Alfama ser conhecida, mas não deixa de ter alguns pontos contra que se não forem calculados podem não ser uma boa noticia:
  1. Em primeiro lugar é não estereotiparem os cidadãos do bairro. Nem todas as pessoas do bairro são de baixo nível de instrução. Existem cada vez mais licenciados que são de Alfama ou que se apaixonaram pelo bairro. Não existe só varinas, lavadouras ou empregadas de limpeza.
  2. Em segundo lugar, Devia-se filmar zonas de interesse turístico no bairro e juntar um pouco da história do bairro. Já que o povo gosta de novelas porque não ensiná-lo sobre as zonas das filmagens.
  3. Em terceiro lugar que as filmagens não impeçam o normal funcionamento da vida no bairro. Que as equipas de filmagem não se considerem donos do bairro e fechem ruas obriguem os moradores a ter de alterar a sua vida por causa de umas filmagens que não têm nada a ganhar.

No entanto, se estas regras e outras de bom senso forem estipuladas as filmagens são algo de positivo para o bairro. E têm no bairro de Alfama um grande palco para uma boa história onde os próprios moradores estão dispostos a ajudar.

Miradouro de Santa Luzia




Estava eu, num dia destes, a dirigir-me para uma reunião quando ao passar fiquei espantado por ver que o Miradouro de Santa Luzia já não tinha aquelas coberturas em zinco que impedia as pessoas de poder usufruir a vista e de estar no Jardim Júlio Castilho. Por momentos pensei que estava noutro país, mais desenvolvido onde as obras finalmente estavam terminadas e tinham reparado o Jardim devolvendo-o ao Bairro.

Mas rapidamente caí na realidade, o empreiteiro, por falta de pagamento, abandonou a obra tendo levado tudo o tinha. No entanto nada no Jardim foi reparado:
  • Os azulejos continuam em péssimo estado e não sendo reparados nem protegidos, vão ser furtados os que se encontram em bom estado.


  • As plantas do jardim não estão cuidadas existindo apenas algumas flores que lutam por dar alguma beleza ao espaço.




  • A base do guindaste que existiu para as obras, está a fazer companhia á estátua do Júlio Castilho, mostrando que quanto a divida da câmara for paga ele vai voltar e que ainda não é desta vez que ficaremos com o Jardim.
  • Os bancos estão partidos.

  • A iluminação é insuficiente.
Em conclusão o espaço parece e está abandonado. Sendo assim, deveria ser reparado o Jardim, num bairro onde espaços verdes são o que mais falta. A reparação e substituição dos azulejos. O policiamento do Jardim e colocação de mais iluminação de modo a que depois de reparados os mesmos não sejam furtados.

No fundo, pretendo para o jardim o que todos pretendem para ele, estar em condições para os moradores usufruírem dele.

Os animais perigosos em Alfama

Segundo o Jornal Publico do dia 26/07/2007 "O Comando Metropolitano da PSP de Lisboa identificou ontem, na zona de Alfama, dez indivíduos em posse de animais potencialmente perigosos e em situação ilegal. Segundo um comunicado emitido hoje, as autoridades registaram dez contra-ordenações por falta de registos, licenças, seguros, vacinação e circulação na via pública sem açaime."
Acontece que a C. M. Lisboa delegou nas juntas de Freguesia a notificação dos donos dos animais potencialmente perigosos. sendo da função desta a notificação dos autores das contra-ordenações e informar a C.M.Lisboa de como está a decorrer o recebimento das multas. Sem que os arguidos (donos dos animais) sejam notificados não pode a C. M. Lisboa executar ou levar os animais para o canil, continuando os mesmo a importunar os cidadãos.
Acontece que fiquei a saber que, pelo menos, a junta de S. Miguel não fez uma única tentativa de notificar os donos contra quem a PSP levantou auto de contra-ordenação. Deste modo, nenhuma multa poderá ser cobrada nem poderão ser os animais levados para o canil municipal.
Não compreendo qual a razão de não notificar os cidadão, existindo apenas duas razões:
  1. Negligencia e descuido - Não sendo para isso que os eleitores elegeram a Junta.
  2. Não querer entrar em conflito com potenciais eleitores e perder votos - Neste caso é necessário perceber que não se pode agradar a Gregos e a Troianos, devendo sempre um politico fazer as coisas pelo bem da sociedade. E, Obviamente a sociedade pretende andar em segurança e não ter medo de uma animal pertencente ao vizinho.

Deste modo, deve a Junta notificar as cidadãos do valor da multa e se ela não for paga indicar tal situação ás autoridades competentes.

Paixão (III)

Sendo um bairro tão característico tais individualidades do bairro são visíveis durante os meses quentes e pelo frio são mais dificilmente detectáveis no verão.
Mas finalmente chegou o verão.
No verão as ruas do bairro fervilham de vida. As casas passam a ser moradas para comer e para dormir e as ruas como grandes salas de estar. Como se o bairro fosse uma grande casa, como dizia Ary dos Santos, “um casa sem janelas”. Muitas vezes as pessoas de pisos superiores como não pretendem sair e ter de descer as escadas ficam a janela ou nas pequenas varandas. E era nessa sua varanda que a Carla passava grande parte do tempo. Ela adorava ler e de estar sentada de costas viradas para a rua. Na realidade de costas viradas para o bairro. Como se ele não fosse importante para ela. Vivia fechada no seu mundo onde tudo o resto fosse supérfluo. Nunca ele iria perceber mas é esse o espírito reinante em Alfama. O individualismo, considerando tudo o resto supérfluo. Com uma pequena diferença. O bairro considerava isso não para os seus habitantes mas para os visitantes, considerava supérfluo o resto que não fosse de Alfama. Era apenas um pormenor, mas aquele anjo tinha o espírito de Alfama.
Mas o facto de a ver permitia-me ser um pouco mais feliz e fazia-me ganhar coragem para pedir para ela descer. Certo dia, estava a Carla na varanda e a D. Manuela na janela das escadas com a vizinha do lado. Pensei – Porque não?
- D. Manuela a Carla pode descer?
- Pode, se ela quiser.
Vi um pequeno sorriso na cara da Carla.
- Mas vou descer para quê? - Perguntou a Carla.
-É difícil falar com alguém que está a dois andares a cima. Anda, podemos ir dar uma volta ao bairro.
- Eu conheço o bairro. Não me perco - Respondeu a Carla. Mas apesar da resposta negativa vi um leve esgar no seu rosto a solicitar que eu insistisse. Na realidade, talvez não tenha visto nada pois eu sem óculos vejo mal à distância e nessa altura tinha a mania de não os usar para não parecer feio.
Após alguma insistência e tendo a D. Manuela do meu lado, a Carla desceu. Andámos a passear a tarde toda. Foi uma tarde perfeita, estava a passear em Alfama com a mais bonita mulher que alguma vez tinha visto e, desta vez, ela estava a passear comigo. Pois na minha imaginação já tinha feito aquele passeio com ela, Mas hoje é real.
Tornámo-nos bons amigos e para mim era a mulher da minha vida. Quase todos os dias nós estávamos juntos.
No entanto, ela nada sabia ou desconfiava da minha paixão. Parece que é verdade. Segundo o povo em questões de Amor o visado, neste caso a visada, é sempre a ultima a saber. Via-me como um amigo que podia ter num bairro completamente estranho. Eu sonhava no dia em que pela primeira vez ia dizer a alguém que gostava dela, que queria que fosse minha namorada. Em que pudesse terminar a minha historia amorosa com o famoso “e viveram felizes para sempre”.
Não era a primeira vez que eu gostava de uma rapariga, mas sempre fui muito cobarde e nunca tive coragem de dizer nada. Já tinha beijado raparigas, mas nunca nenhuma que eu gostasse realmente. Parecia difícil fazer com alguém de quem nós gostamos mesmo. Era mais fácil com as outras. Se não lhe ligavas muito ias mais descontraído. Não te preocupavas que algo corresse mal. E, por isso não corria mal. Mas agora era diferente. Eu estava apaixonado por ela. Eu pensava nela todos os minutos, eu respirava, comia e bebia-a nos meus pensamentos. Eu tinha de dizer o que sentia por ela e tinha de saber se ela sentia o mesmo por mim. E o pior é que ela podia dizer que sentia o mesmo por mim e ai vinha o grande problema. E se eu a beijasse mal? E se eu não fosse tão bom namorado como amigo? E se…
Era esse o meu problema. Mas eu estava cada vez mais apaixonado por ela.
Este sentimento aumentava exponencialmente cada dia que passava. Eu tinha de dizer o que passava na minha cabeça. E naquele dia não podia passar. As palavras tinham sido exaustivamente treinadas. Na minha cabeça fui alterando e melhorando o discurso. Ele não podia falhar. O discurso cuidadosamente aperfeiçoado, algumas vezes com palavras tiradas do dicionário, estava pronto.
Após ter ajudado o meu pai (ele tem um restaurante), esperava ouvir os passos da rapariga que eu queria para o resto da vida. Não conseguia ouvir, ou não desceu ou passou numa altura em que o barulho dentro do restaurante era tão grande que nem os meus apaixonados sentidos conseguiam ouvir. Nem das inúmeras vezes que vim à porta pelos supostos passo Vim à porta e olhei para a janela. Ela estava na janela das escadas. Eu decidi – Era agora:
- Olá !
- Olá, Helder.
- Posso falar contigo?
- Podemos falar daqui a um bocadinho.
- Tem de ser agora.
- OK, eu desço.
- Não, eu subo.
Achei que teria mais privacidade falar nas escadas do prédio do que nomeio da rua onde as paredes têm mais do que ouvidos. As ruas de Alfama não permitem que ninguém tenha uma conversa particular.
Subi as escadas num ápice e cheguei num instante ao pé do objecto da minha paixão.
- Entra Helder, para falarmos.
- Não, quero falar contigo aqui fora.
- Diz.
- Já nos conhecemos há algum tempo e desde que te vi pela primeira vez tenho um sentimento que com passar do tempo não desapareceu mas cresceu. Eu, desde o primeiro dia que te vi, gosto de ti. És uma mulher bonita e conhecer-te fez-me agradecer que o Zé Carlos tivesse sido atropelado. Não que ele merecesse, mas assim pude conhecer-te. E pude estar contigo e conhecer-te e ver que és a melhor coisa que podia ter acontecido na minha vida. E por isso gosto de ti e queria namorar contigo…
- Helder, eu gosto de ti como amigo. Se eu pudesse escolher, escolhia-te a ti. Mas no Amor não se escolhe. É o coração que escolhe. Por isso peço desculpa, mas não vou aceitar.
- Não faz mal – disse – mas eu tinha de dizer.
Desci as escadas. O meu plano tinha falhado redondamente. O texto que tinha criado não saiu. Nem uma palavra. Tudo aquilo porque tinha treinado foi-se no meio do nervosismo. E ela respondeu que não. O não que eu, no meio do meu medo, esperava mas que não queria.
No entanto, não estava chateado, mas contente. Não estava triste, mas feliz. Não estava desapontado mas satisfeito. Tinha dito a alguém que gostava o que sentia. Tinha colocado, mal, mas tinha colocado em palavras o que sentia. E a partir desse dia não precisava de disfarçar perante ela. Sentia-me pela primeira vez um homem. Tinha, pela primeira, vez algo que sempre me pareceu de adulto. Dizer a quem amamos que a amamos.

Paixão (II)

A imagem daquele anjo não me saia da cabeça. Adormecia a pensar nela e acorda com a imagem dela a abrir-me a porta.
Rapidamente comecei a reconhecer os seus paços quando descia as escadas, a sua voz no meio da rua. Mesmo a meio da manhã, no meio pregões das varinas, no barulho das crianças, eu sentia o seu andar, o seu respirar. Algumas vezes falhava, alguém conseguia imitar o andar dela, a sua voz, a sua maneira de descer as escadas. Mas noutras vezes acertava. E ela lá estava.
Ela costumava sair com a avó nas suas compras diárias. Alfama é um bairro muito único. Era normal as pessoas fazerem as compras para o próprio dia. Existiam talhos que abriam de terça a sábado às seis da manhã, fechavam às 16 horas.
Um dos mais conhecidos era o talho do Sr. António – Ti’António para mim. E ele nunca foi meu familiar. É apenas uma das formas de tratar as pessoas por quem tenho grande apreço e respeito. Assim, não se trata essas pessoas num distante “Senhor” ou “Senhora” mas num próximo Tio ou Tia. Dessa maneira quer o sujeito quer o destinatário sabia que aquela relação era especial.
Quanto ao peixe a variedade era imensa. Na rua de S. Pedro existiam, pelo menos 15 varinas que vendiam o seu peixe de terça a sábado. A Rua de S. Pedro era também denominada de Rua do Peixe. O cheiro do peixe tinha-se entranhado nas pedras da calçada. Apesar dos serviços da Câmara Municipal de Lisboa lavarem a rua diariamente logo após as varinas encerrarem o seu negócio às 15 horas. Mas o bairro cheirava a peixe, o bairro cheirava a mar. Mas não digo isto como critica ou como sinal depreciativo. Foi o Mar, ou a baia calma, designação fenícia que originou a palavra Lisboa, que fez que o povo tenha escolhido Alfama para viver. Há sua frente tinha uma fonte de alimento e dentro do bairro tinha muitas nascentes de água. Assim, tínhamos tudo o que era preciso para um povo se sedentarizar. Não faltava água nem comida.
Saudades de algo que já não volta.
Era normal a D. Manuela vir à rua fazer as suas compras diárias, agora na companhia daquele anjo.
- Olá Carla, como estás?
- Bem e tu?
Depois vinha a conversa do tempo e ficava sem nada para falar. Na realidade eu não precisava de conversa. Só de a ter ao alcance da minha vista.
Dificilmente eu conseguia ter a Carla na rua. Era uma rapariga de casa, não gostava de estar na rua – Não era de Alfama, onde para nós a rua é mais uma assoalhada da casa.
É normal encontrar as portas das casas abertas. Tal situação é devido a uma razão sócio-arquitéctonica ou arquitectónico-sociológica. As casas em Alfama são muito pequenas e com pouca iluminação. Muitas vezes têm divisões interiores e apenas uma ou duas janelas. Deste modo é normal encontrarmos portas de entrada com janelas e portas abertas. Tal situação vem minorar as duas características dos imóveis em Alfama. Com a porta aberta entra mais iluminação natural para dentro de casa e, por outro lado têm-se a impressão que a casa é maior. Como se a casa se alargasse para a rua e para dentro da casa dos vizinho que têm igualmente a porta aberta.
Talvez por esta arquitectura, pelas pessoas ou pela história. Não podemos esquecer que a arquitectura é de origem árabe onde a introspecção familiar e social é rainha onde as casas são constituídas de acordo com a cultura muito particular. Existe em Alfama uma sociedade diferente do resto da cidade. Todas as pessoas do bairro se conhecem. As notícias correm muito depressa. E, por isso, existe entre os habitantes do bairro uma mistura de Amor e Ódio Familiar. As pessoas adoram-se, mas muitas vezes por questões sem a mínima importância, deixam de se falar, chegando a existir confrontos físicos.

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