Alfama

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Trânsito infernal há 300 anos

Na Lisboa de há 300 anos o trânsito era mais caótico e perigoso que hoje. Matava-se por questões de prioridade e as multas eram pesadas.

Durante séculos, o povo deslocou-se a pé e os nobres a cavalo. As ruas da capital eram estreitas, sujas, malcheirosas e lamacentas. Tanto que os de maiores posses preferiam a água à terra e iam do Terreiro do Paço a Belém de barco. Mas a vida ia-se fazendo.
Em 1581 deu-se o "desastre". Filipe II de Espanha veio a Portugal e trouxe um coche, coisa nunca vista: uma caixa de madeira fechada, bastante desconfortável, em cima de quatro rodas, puxada por meia dúzia de cavalos. A novidade fez escola e não houve nobre endinheirado que não quisesse ter um.
Assim começaram os engarrafamentos e as discussões de trânsito.

Nas apertadas vielas era costume recuar o coche do proprietário com menor posição social, mas quando se encontravam dois iguais era frequente chegarem a puxar da espada. Houve muito sangue derramado nestas discussões, até que D. Pedro II, em 1686, mandou elaborar as primeiras leis, afinal o primeiro código da estrada, colocar os primeiros sinais de trânsito em Lisboa e também alguns "polícias sinaleiros", chamados "práticos".
As penas para quem não cumprisse esse código eram pesadas: degredo para o Brasil e 2 mil cruzados de multa. Na parede do prédio n.o 26 do Beco do Salvador, em Alfama, ainda está a lápide com a inscrição do direito de prioridade. Afinal o primeiro sinal de trânsito que existiu em Lisboa e em Portugal.

por António Mendes Nunes, Publicado em 13 de Maio de 2009 no Jornal i

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