Há um ano foi criado o projecto SOS Azulejo para actuar na prevenção do roubo deste património e sensibilizar os lisboetas para a sua importância. O Destak falou com João Oliveira, coordenador de investigação criminal da PJ, especializado em furto de bens culturais, sobre o roubo destes objectos.
Como é que o projecto SOS Azulejo ajuda a PJ?A investigação da PJ é parte interessada nesse projecto. Porque desde logo dá uma visibilidade muito maior a toda esta questão dos azulejos, sensibiliza as pessoas, fá-las tomar consciência da importância e do valor histórico-cultural que os azulejos têm no panorama nacional. Se as pessoas estão mais consciencializadas, quando se deparam com uma situação de incúria, de dano ou mesmo de f

urto, logicamente têm mais condições para tomarem a iniciativa de procurarem as autoridades e participarem a situação. Mais importante do que o êxito da investigação é a salvaguarda do património cultural que é de todos nós.
Como define o panorama de Lisboa, quanto ao roubo de azulejos? Há muitos a serem roubados?
Por poucos que hajam nós achamos que são sempre muitos. Mas objectivamente (e infelizmente) ainda há muitos problemas relacionados com furtos de azulejos. Nós queremos acreditar que já se atingiu o topo e agora está a diminuir.
Quando foi essa época?
2003, 2004…
Por algum motivo em especial?
Ao nível da prevenção não estavam criadas as condições que existem hoje, desde logo. Depois, temos que perceber que saímos de uma época como a década de 90 que foi uma época de prosperidade, em que os bens ditos culturais tiveram grande procura. Portanto, os azulejos que num primeiro momento não eram um dos bens mais procurados, começaram a ter procura. E como já foi uma procura mais tardia que os outros tipos de objectos, logicamente o fenómeno fez-se sentir com mais acuidade no início desta década. Foram situações em que se detectaram grandes furtos, muita quantidade de azulejos foram furtados.
De onde são retirados os azulejos?
São retirados de prédios, quer públicos, quer privados, principalmente palacetes, casas apalaçadas. Tanto do exterior como do interior. Estamos a falar muitas vezes de imóveis que estão abandonados – um problema muito grave também é a incúria, que depois traz associado o fenómeno do furto.
Existe um perfil de quem rouba azulejos?
Aqui na cidade de Lisboa – que é o local do País onde este problema se faz mais sentir – já há uma percepção do valor dos azulejos. Aliás, essa percepção deu também contributos para o aumento do fenómeno dos furtos de azulejos. Ao mesmo tempo existe uma disponibilidade enormíssima e ainda, para completar o ciclo, uma grande procura.
Em relação aos perfis, há dois segmentos. O da pequena criminalidade, do indivíduo que não é especializado em bens culturais, muito menos nos azulejos. Normalmente são cidadãos com problemas de toxicodependência, que vêm no furto de alguns azulejos – quando falo de alguns são mesmo poucas peças – uma forma de ganhar dinheiro para a dose diária que vão consumir.
Depois temos o domínio que já entra na criminalidade organizada, em que se percebe claramente que há um trabalho de preparação e execução com uma elaboração técnica que pressupõe que se saiba exactamente o que se está a fazer. Imagine um quadro de azulejos com uma dimensão considerável, como é que se vai retirar aquilo de uma parede sem danificar? Há técnicas e utensílios próprios para fazerem aquele trabalho com garantia de não danificação elevada.
Posso comprar azulejos roubados numa loja?
Clara e objectivamente pode. Alguns comerciantes compram azulejos que têm perfeita noção que têm proveniência ilícita. Mas há também as situações em que os comerciantes têm em exposição azulejos que eles próprios desconheciam em absoluto que eram roubados. Quando isso se verifica os comerciantes ficam isentos de responsabilidade. Mas isto tem que ser dito: há maior garantia, da parte do cidadão que vai comprar o azulejo, fazê-lo numa loja especializada na área do que se o fizer numa feira.
Como é que se pode fazer uma denúncia?
Não são necessárias denúncias formais, basta um telefonema. Pode até ser por email, por carta ou podem vir aqui à PJ. Posso assegurar-lhe que todas as situações que nos são reportadas, seja por que forma for, mais formal ou mais informal, são objecto de uma averiguação nossa.
Que zonas da cidade são mais alvo destes roubos?
Toda a zona da Baixa, pela riqueza de azulejos que aí existem. Alfama, Bairro Alto, toda aquela zona é de onde temos reporte de maior número de situações. Mas é por toda a cidade.
Qual é o valor monetário destes azulejos?
Varia muito. Em Lisboa existe o maior comércio de azulejos do mundo e se for a uma loja especializada ficará com certeza estupefacta com os valores. Pode ver conjuntinhos de quatro azulejos na ordem de mais de mil euros. Tudo isto em função de um conjunto de características que os azulejos devem ter: a época, um azulejos do século XVII é muito mais caro que um do século XVIII, temos que ver a azulejaria antes do terramoto e depois do terramoto, se se trata de um azulejo padrão ou de painéis, se é de autor, são muitas as variáveis que ditam o valor a pagar.
O que fazem com os azulejos que são recuperados?
Se for detectada a sua origem são devolvidos aos proprietários. Mas por vezes apreendemos azulejos mas não conseguimos estabelecer uma ligação com o local de onde foram furtados. Esses azulejos revertem a favor do Estado e uma parte deles são encaminhados para o nosso museu.
In Destak