Alfama

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Moradores revoltados com avarias e abusos

"Júlio Santos mora há três anos na Costa do Castelo. Talvez pareça pouco tempo, mas é tempo mais do que suficiente para que, enquanto fuma um cigarro à janela da sua casa, consiga apontar um a um quais são os carros estacionados que não pertencem a moradores da rua que integra a zona de acesso condicionado do Castelo.

A culpa é da Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa (EMEL), cujos funcionários "deixam passar pessoas que não são de cá", queixa-se este residente que, para evitar perder tempo à procura de lugar, opta por deixar o seu automóvel no local de trabalho. "Ao fim-de-semana põem o pino no automático e qualquer carro chega aqui e entra", diz apontando para o posto de controlo instalado ao fundo da sua rua.
A EMEL admite, em respostas escritas enviadas ao Cidades, que até aqui "era concedida uma grande discricionariedade aos operadores do sistema, o que muitas vezes provocava atritos com os utentes". Tentando acabar com o problema, a empresa introduziu recentemente o cartão Viva Viagem Bairros Históricos, "um meio de acesso que evita o contacto com o operador". O cartão é recarregável e custa 25 euros, sendo-lhe descontado um determinado valor sempre que o seu utilizador deixa o carro parado no interior de um bairro histórico por mais do que meia hora.
Uma solução que de nada servirá para acabar com um outro problema de que se queixam outros moradores, especialmente de Alfama, segundo quem os pilaretes nas entradas e saídas do bairro estão frequentemente em baixo, permitindo o livre acesso a áreas supostamente condicionadas. "Há uma série de semanas que a entrada na Rua do Barão está escancarada e, nas raras ocasiões em que isso não acontece, assim que um carro se aproxima o pilarete baixa imediatamente mesmo que não se tenha identificador", acusa um residente que pediu para não ser identificado e que está de malas feitas para abandonar o bairro, devido à carência de estacionamento e aos constantes assaltos às suas viaturas.
Na quarta-feira passada tanto essa entrada como a da Calçada de S. Vicente estavam abertas para quem quisesse entrar, acontecendo o mesmo com a saída da Rua Cruzes da Sé, na qual vários moradores garantem que é comum ver carros a circular em marcha-atrás para aceder ao bairro. Uma situação que contribui para a notória falta de lugares de estacionamento no interior da zona condicionada de Alfama, que é também agravada pela profusão na via pública de andaimes ferrugentos que amparam edifícios esventrados.
Para atenuar essa realidade, a EMEL oferece avenças mensais nos parques das Portas do Sol (por 50 euros para 24 horas) e da Calçada do Combro (por 78,2 euros para 24 horas), mas o parque que serve o Bairro Alto e a Bica não tem neste momento avenças disponíveis, existindo uma lista de espera.
A empresa admitiu também que, como contestam alguns moradores e presidentes de juntas de freguesia, algumas das cedências de lugares acordadas com terceiros quando o acesso aos bairros foi condicionado deixaram de existir, por exemplo com o Patriarcado de Lisboa e a Escola Superior de Dança.
Apesar destas deficiências, Eduardo Balsa, residente que integra a Associação do Património e da População de Alfama, encontra vantagens no sistema introduzido há quase sete anos. "Antes isto estava cheio de carros até ao tutano. Não se conseguia andar sem tropeçar num carro", lembra, constatando que agora até "há mais crianças a brincar na rua".


In Público

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