Os casos de furtos a turistas nos miradouros históricos de Alfama estão a criar uma verdadeira onda de indignação entre quem ali vive ou trabalha. Nos eléctricos, a situação arrasta-se há anos e há relatos de roubos com grande violência nas vielas do bairro.
Um passeio pelo mais castiço bairro da capital pode revelar-se um autêntico pesadelo. Especialmente, se incluir uma paragem nos miradouros de Santa Luzia ou Portas do Sol, dois locais de onde é possível desfrutar de uma magnífica panorâmica sobre a cidade e o rio.
"Andam aí todos os dias. Já os conhecemos. Apanhar os turistas desprevenidos num momento de lazer e roubar-lhes malas e máquinas fotográficas é o "trabalho" deles", conta ao JN um habitual frequentador do espaço, que solicita o anonimato, com receio de represálias. "É que, quando avisamos os estrangeiros, eles ameaçam-nos. São perigosos", explica.
Os relatos falam em grupos de jovens - portugueses e estrangeiros - que abordam os turistas de forma discreta. "Muitas vezes, passam também por turistas, com mapas na mão que abrem, para dissimular os furtos. E andam bem vestidos", revela outro testemunho.
"Não imagina como as coisas se passam. Eles actuam em bando, os turistas não dão por nada e quando se apercebem já não há nada a fazer", conta um homem, que trabalha num estabelcimento comercial vizinho.
"Já vi pessoas desesperadas, a chorar, por ficarem sem nada. Dinheiro e documentos", diz o mesmo testemunho. Recorda um caso recente em que uma turista de nacionalidade russa "quase morria com um ataque de pânico" quando constatou que lhe tinham roubado a mala. "Além da documentação, levaram-lhe mil euros", recorda.
"Isto é uma calamidade", desabafa Francisco Maia, presidente da Junta de São Miguel, que, recentemente deu conta destes casos ao presidente da Câmara. António Costa tomou nota e "mostrou-se muito preocupado", afiança o autarca.
"Toda a zona é aprazível para o relaxe e para disfritar da paisagem, que é o que os turistas fazem", salienta, destacando que há "autênticos bandos" que se aproveitam disto para actuar. "De dia é um caos, e, à noite, no interior do bairro, ainda é pior, com roubos por esticão, com alguma violência", diz.
"É uma brutalidade"
Na vizinha freguesia de Santo Estevão, a presidente da Junta, Maria de Lurdes Pinheiro, fala de roubos com grande violência. "É uma brutalidade! Muitas vezes, os turistas são puxados para o interior de um beco, encostados à parede e agredidos por grupos, que depois de roubarem, desaparecem rapidamente", conta.
Os dois autarcas chamam ainda a atenção para o facto de a própria geografia do bairro ajudar às intenções dos assaltantes. E dão conta que muitas vezes, agridem os turistas e fogem pelo interior dos pequenos becos. "Quando a polícia chega, já estão metidos dentro de casa, ninguém os apanha na rua", revelam.
A polícia tem feito alguma vigilância e chega a deter alguns jovens, mas, segundo um frequentador do miradouro de Santa Luzia, "duas horas depois de serem levados para a esquadra já estão de volta".
Idosos também não escapam
E não são só os estrangeiros os alvos destes grupos. "Outro dia, fingiram que eram turistas e pediram a uma senhora de 90 anos, que mora aqui e estava sentada num banco do jardim a apanhar sol, para tirar fotos com ela. Quando foram embora, viu que lhe tinham furtado a mala, com todos os seus documentos e dinheiro", conta outro transeunte.
Também os eléctricos são palco frequente de casos destes. "A situação é muito preocupante, os problemas têm sido muitos, com roubos a turistas e velhotas, a par de actos de vandalismo", resume Maria de Lurdes Pinheiro.
Francisco Maia garante que não vale a pena colocar cartazes a avisar os turistas dos perigos, mas defende que é preciso repensar o policiamento. "Os agentes têm de fazer mais vezes o percurso entre Santa Apolónia e o Castelo", diz.
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