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Alfama: artistas expõem carne em decomposição

(imagem de José Sena Goulão)

Vida, larvas, moscas e morte. A associação pode parecer bizarra, mas é o tema de uma peça composta por uma perna de carneiro em decomposição, exposta numa nova galeria de arte em Alfama, que surpreende a população do bairro típico lisboeta, noticia a Lusa.
«Isto é uma exposição? Ó meu Deus!», afirma Guilherme, merceeiro do bairro.
«Isto» é um cubo de acrílico que contém uma perna de carneiro a ser decomposta por larvas e varejeiras, com um copo de vidro com água ao lado, uma peça colocada à entrada da galeria e que pretende representar a vida e a morte.
«Life» (vida) é o tema da exposição, mas o visitante é também confrontado com o seu contrário, a morte.
«Flie» - que joga com as mesmas letras de «life» e tem, em inglês, o som da palavra «mosca» («fly») - representa esta antítese, materializada numa outra peça da exposição, um conjunto de quadros em que moscas mortas, coladas à tela, assumem protagonismo.
O jogo de palavras - «Life» e «Flie» - não é inocente.
«Nós, humanos, estamos sempre a matar as moscas. Elas representam a morte», explica um dos dois artistas que criaram a exposição, que pretende levar o observador a pensar na morte e consequentemente na vida.
«A vida só tem sentido se houver morte», salienta.
«Não esquecerão o que viram»
A galeria abriu portas na Rua dos Remédios no início de Setembro, estando prevista a sua abertura oficial em Novembro, altura em que as peças expostas estarão disponíveis para venda.
Até lá, indicou o artista inglês, todos são bem vindos a entrar neste espaço para ter uma ideia daquilo que será a exposição.
A decisão de abrir a galeria em Lisboa é justificada com a maior facilidade de entrar no meio cultural, face a outras capitais europeias.
Moscas, larvas e carne putrefacta podem repugnar quem por ali passa, mas mais importante que tudo é que «não esquecerão o que viram», o que obrigará sempre as pessoas a reflectir sobre a vida e a morte.
As opiniões dividem-se
Entre a população, as opiniões sobre a obra dos dois artistas divergem, mas a curiosidade parece ser generalizada entre os moradores de Alfama.
Rosário, moradora, diz que olha «sempre para lá, a ver se lá está a mesma coisa».
Confessa que se assustou a primeira vez que viu a obra, que lhe «parecia um chispe», mas depois ouviu dizer que «era um osso de presunto cheio de bichos».
Ivo, trabalhador no bairro, viu de passagem a obra, que diz ter achado «arrepiante», apesar de defender «a diferença e a originalidade».
«Aquilo faz-me um bocadinho de confusão. Uma varejeira... cultura», ironiza.
In Portugal Diário 27/09/2007

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